Tempo, espaço e matéria são noções convencionais que permanecem inquestionáveis na definição central da contemporaneidade. No entanto, o que aconteceria com o conceito de "contemporâneo" se desvinculado da idéia tradicional do que é conhecido como "agora"? E se o tempo não fosse traduzido como um momento que acontece depois de outro? E se a matéria não pudesse ser mapeada dentro dos espaços, mas compreendida como um jogo entre a existência e a não-existência? Eu argumentarei que o problema com a contemporaneidade é que ela não reconhece diferenças entre contextos e implicações políticas. Em vez disso, implica uma idéia de neutralidade e universalidade imposta pelas perspectivas ocidentais sobre o resto do globo, causando o apagamento de "outras" histórias, culturas e estéticas.
A minha pergunta de pesquisa é elaborada da seguinte forma: como a desconstrução da linearidade do tempo pode repensar como entendemos o corpo dentro das artes cênicas? Para responder a esta pergunta, vou discutir a noção de neutralidade e sua relação com a política do tempo e sugerir uma leitura da performance e do corpo como fenômeno. Além disso, este trabalho tenta oferecer pensamentos descoloniais que podem ser aplicados dentro das artes cênicas para destacar suas múltiplas singularidades e perspectivas relacionais.
Esta pesquisa começa com uma compreensão agencial do corpo (matéria) proposta pela física e filósofa Karen Barad, que, através das lentes da Teoria Quântica de Campo, nos oferece o conceito de intra-ação como uma tentativa de perturbar a linearidade do tempo, a homogeneidade do espaço, e a materialidade e política do corpo. Trago à luz dois importantes princípios que fundem as agenciais intra-ações de Barad, o "conhecimento situado" trazido por Donna J. Haraway e o "corpo-território" desenvolvido pelo Professor Brasileiro Eduardo Miranda. Além disso, vou introduzir um dilema apresentado pela filósofa Bojana Kunst para perturbar os aspectos temporais das artes cênicas e defender a idéia de uma "dis-eventualização" da performance. Finalmente, apresentarei uma ajuste descolonial oferecido por Rolando Vázquez, reconhecendo a influência colonial da estética Euro-Americana e reivindicando o "fim do contemporâneo".